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sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Fernanda

Bom dia Fernanda.

A agitação daqueles inícios de semana era comparável à excitação que precede a largada de uma corrida de automóveis. A visão da chegada daquela mulher franzina de farta cabeleira e olhos penetrantes, era quase um tónico para uma equipa cinzenta, muito aprumada nas suas gravatas de seda e uma forma notável de fugir ao Benfica Sporting do fim de semana. Somava-se a tudo isto o facto de uma mulher sozinha no meio de homens, aligeirar o ambiente e “impor” alguma contenção e educação aos discursos “másculos”.
A delicadeza de modos e a aparente fragilidade física, escondiam um poço de vontade e uma capacidade de trabalho fora do comum.
Tempos passaram e os projectos da Fernanda levaram-na para outros trilhos e naturalmente o afastamento instalou-se. Apenas se ouviam notícias soltas de alguém que se cruzara com ela.
Há dia chegou um desses relatos soltos.
Numa destas sextas feiras, a Fernanda sentiu-se mal. O que parecia ser pouco importante, veio a ser em menos de três dias, a razão para uma partida prematura. Talvez prematura demais para ser até uma partida.
Porque os nossos mundos mudam, o afastamento físico de algumas pessoas é natural, mas as memórias são partes de nós.

Adeus Fernanda

JHPereira

25 Set 2009

Couraçado


Couraçado

Foi uma ideia brilhante para a maioria dos estrategas. Conceito simples, couraça mais forte que os projécteis que o podiam atingir, ou seja inatingível.
Que coisa tão humana esta de construir fortalezas e pensar que estamos dentro e os outros fora, que o nosso poder se pode ostentar e esfregar nas barbas dos “fracos” que ficam do outro lado.
Os couraçados hoje têm outros nomes, chamam-lhes condomínios privados, ou clubes exclusivos, ou qualquer outra forma que permita a uma casta não se misturar em especial com as “inferiores”.
Mas ideia da couraça é tanto menos inteligente quanto a História tem revelado que quanto mais altos são os muros, maior é a vontade de saltar. Curioso é também ver que é justamente paredes meias com o luxo que vive a maior pobreza, o que é natural já que alguém tem de limpar, jardinar, conduzir, tomar conta dos meninos, etc, etc, etc.
O ostracismo tem levado ás desgraças que qualquer compêndio de História relata melhor do que o autor destas palavras. O fim dos couraçados e do seu poder foi no mínimo uma aceitação de derrota, já que os milhões que foram precisos para os construir são ridicularizados pelos tostões necessários para os destruir.
Ora bolas, lá se vai a aldeia dita global.

JHPereira

24-Set-2009